sábado, 1 de maio de 2010

As estações

Por enquanto, garoa.
Contudo, garoa agora, pois até ontem chovia torrencialmente.
Por enquanto, sinto o leve sopro do vento.
Contudo, é leve agora, pois até ontem tinha a força dos furacões.
Até ontem havia a tempestade da confusão,
o silencioso estrondo do fim,
o encharco de minha alma lavada de pranto,
a violência do vento que desnorteava meu leste;
me alijava dos sentidos;
me fazia de móbile no meio da tempestade.
Por enquanto, sinto o frescor do tempo.
Contudo, é fresco agora, pois até ontem era insuportavelmente quente.
Por enquanto, sinto o orvalho.
Contudo, é umido agora, pois até ontem era seco e sufocante.
Até ontem era quente o bastante para me sentir arder em febre e fúria.
A ausência de sua figura concreta me sufocava o peito,
me ressecava a alma. Meu corpo sentia a nauseante falta do teu suor;
minha boca rachava pela ausência dos teus lábios,
meu peito estertorava de angustia pela sua perda;
a vida se ressentia do amargo gosto de fel,
da profunda tristeza; do desatino da dor.
Por enquanto, tenho uma alma rachada pela erosão do desencanto,
um coração de águas turvas de sentimentos conflitantes.
Contudo, embora o tempo me traga a primavera e me permeie com o alvorecer de novas esperanças
ainda posso sentir forte dentro de mim
o beijo quente no teu verão,
o adeus gelado no meu inverno
as folhas mortas no nosso outono.

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