quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Eu tenho mais de 20 anos


Quando eu tinha uns 15 anos, eu pedi a Deus para morrer antes de completar os 20. Na verdade eu tinha medo da carga de responsabilidades e da postura que a idade viria a exigir de mim. Fazer 20 anos seria assumir posturas e atitudes as quais eu não gostaria. Mas parece que Deus esqueceu do meu pedido ou não levou ele muito a sério e inadvertidamente quando me dei conta eu havia chegado aos 25. Ao olhar para trás pude perceber que os 20 havia chegado e não tinha exigido nada além do que eu tinha para dar. Observei também que sempre fui um adulto preso no corpo de uma criança e que tornar-me adulto era um momento de liberdade, que até então não tinha desfrutado. E nesse momento eu levei uma conversa séria com Deus e pedi para ele esquecer de uma vez por toda o meu pedido. Confesso que passei a ter mais cuidado ao atravessar a rua e evitei alguns esportes radicais. Até que desencanei e quando me dei conta tinha feito 30 anos. Foi nesse momento que eu pirei o cabeção.
30 anos, puta que pariu! Como assim?!
Ai não tive outra alternativa, fui obrigado a procurar ajuda psicológica. Tudo culpa de uma ideia preconceituosa de uma geração antes da minha. Cresci acreditando que aos 30 anos, estaria na metade da vida e que esta deveria está praticamente estabilizada, profissionalmente e sentimentalmente. Orá, meu pai com 30 anos já tinha 3 filhos e era casado, além de possuir um emprego estável. Olhei para mim e vi um recém formado, sem emprego, sem filhos, solteiro, morando com os pais e psicologicamente me sentindo com 25 anos de idade. É ou não é para pirar?!
Não sei qual a linha que a psicóloga usou, se junguiana, comportamental ou psicodrama. Sei é que ela olhou para mim e na minha cara disse: Uomo, volta pra base e deixa de frescura! Parece que resolveu. Porque quando fiz 30 anos uma urgência de ser feliz tomou conta de mim. Eu precisava ser feliz como nunca tinha sido e para isso eu precisava mergulhar dentro de mim e poder ler todas as cartas que escrevera na infância. Trazer a tona todos os medos, colocar na mesa tudo que sou e tudo que me tornei. O que queria realmente continuar a ser e por a baixo todas as mascaras que não mais queria em mim. Quando fiz 30 anos eu precisei começar a ser, para ver o que eu tinha conseguido ter. 
Hoje faço 35. Não voltei ainda desse mergulho, mas já voltei muitas vezes a superfície para respirar e pude perceber que quanto mais mudo meu mundo interno, mais meu mundo externo entra em um redemoinho louco de mudanças e acontecimentos que me forçam a sair do meu chão. Não me vejo tão experiente, embora sinta-me mais maduro, mais safo. Hoje faço 35 e o melhor presente é saber dos amigos que fiz nesse caminho. Que alguns se tornaram irmãos de alma e ficaremos para sempre juntos. Que muitos outros ainda me farão ver novos mundos e experimentar novos sabores. E quando menos perceber...eita olha eu com 40.
Ontem de manhã quando acordei, olhei a vida e me espantei...eu tenho mais de 20 anos!

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