sábado, 10 de dezembro de 2011

Change

Quando passava pelo estágio 2 do processo de intercâmbio (o estágio 2 é composto por imensa saudade de casa e episódios repetidos de choro), eu li uma frase e ela ficou na minha cabeça. De momento não entendi, mas hoje ela faz todo sentido para mim. A frase em questão foi: "Um homem não poderia banhar duas vezes no mesmo rio, porque o homem não seria o mesmo, nem o rio". Já essa semana, me deparei com um comentário, postado em rede social, que dizia mais ou menos assim: Primeiro nos sentimos saudade de casa e depois, quando voltamos, vemo que algo mudou, quando na verdade quem mudou, fomos nos.
O post de hoje é sobre isso mesmo, mudança!
O pensamento sobre o homem, citado acima, é de Heráclito de Éfeso. Segundo ele, tudo na natureza esta sujeito a ação do tempo e das transformações que isso poderia acarretar. Para Heráclito, essas transformações são resultados da luta contínua entre opostos. 
Há exatos três meses, escrevia algo sobre medo e transformações. Estava iniciando o processo da minha  viagem e via-me profundamente amendrontado e inseguro. Naquele momento, passava por experiências que só tornaram aqueles instantes ainda mais complicados, devido a descoberta de um tumor na mandibula. A imagem, colocada no post, sobre ser engolido por um furacão, talvez seja o que melhor definiria aquele momento. Passados três meses, poderia dizer que fui engolido pelo furacão e que alguns conceitos, como que passados por um liquidificador, tornaram-se pastosos demais para serem vividos concretamente. Acho que ainda não posso mensurar o quanto tudo em mim foi bagunçado. Precisarei voltar para que eu possa avaliar com mais cuidado. Entretanto, é fato que me banhar nas águas do rio hoje, já não será a mesma coisa, porque o homem mudou e o rio passou. 
Voltar será tão importante quanto ter partido. Poder ver todo o ontem que deixei e defrontá-lo com todo o hoje que existe, com certeza irá bagunçar muito mais. Contudo, não tenho mais medos de furacões. 
Terminei o post antigo, desejando que tudo vira-se pó, cinzas e saudades. Esses talvez foram os ingredientes da construção de uma nova ponte. Com relação a fenix corajosa... essa vocaliza alto, em razantes vôos no céu! 

2 comentários:

Klécia Melo disse...

Porque as paredes, os lugares, os amigos, as ideias vao estar la, todas no mesmo lugar... Mas com que olhos voce vai olhar pra tudo isso?

Vou sentir saudades suas! E espero que voce tenha entendido o sentido das Itacas - segue texto auto-explicativo =)

ÍTACA
Konstantinos Kaváfis


Quando , de volta , viajares para Ítaca
roga que tua rota seja longa,
repleta de peripécias, repleta de conhecimentos.
Aos Lestrigões, aos Cíclopes,
ao colério Posêidon, não temas:
tais prodígios jamais encontrará em teu roteiro,
se mantiveres altivo o pensamento e seleta
a emoção que tocar teu alento e teu corpo.
Nem Lestrigões nem Cíclopes,
nem o áspero Posêidon encontrarás,
se não os tiveres imbuído em teu espírito,
se teu espírito não os sucitar diante de si.

Roga que sua rota seja longa,
que, mútiplas se sucedam as manhãs de verão.
Com que euforia, com que júbilo extremo
entrarás, pela primeira vez num porto ignoto!
Faze escala nos empórios fenícios
para arrematar mercadorias belas;
madrepérolas e corais, âmbares e ébanos
e voluptosas essências aromáticas, várias,
tantas essências, tantos arômatas, quantos puderes achar.

Detém-te nas cidades do Egito -nas muitas cidades-
para aprenderes coisas e mais coisas com os sapientes zelosos.
Todo tempo em teu íntimo Ítaca estará presente.
Tua sina te assina esse destino,
mas não busques apressar sua viagem.
É bom que ela tenha uma crônica longa duradoura,
que aportes velho, finalmente à ilha,
rico do muito que ganhares no decurso do caminho,
sem esperares de Ítaca riquezas.
Ítaca te deu essa beleza de viagem.
Sem ela não a terias empreendido.
Nada mais precisa dar-te.
Se te parece pobre, Ítaca não te iludiu.
Agora tão sábio, tão plenamente vivido,
bem compreenderás o sentido das Ítacas.

Uomo disse...

Se era pra fazer chorar... chorei muito!
Tbm sentirei saudades suas...muitas!