quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Além da vida

Acabo de chegar do cinema, fui assistir "Além da Vida" (Hereafter) do Clint Eastwood. Sai da sala de exibição meio fora de mim. Quem parecia ter tido uma experiência de quase morte tinha sido eu. Na verdade estava apenas emocionado e mexido com o filme. O Eastwood não é afeito a filmes de tese, ele sempre prefere contar uma boa história a fazer campanha e é mais ou menos o que ele pretende com esse filme. “Além da Vida” acompanha três personagens que, de formas distintas, estão ligados à morte. Em São Francisco, George Lonegan (Matt Damon, em excelente e sutil atuação) possui o dom de estabelecer contato com pessoas mortas, embora, observe o dom muito mais como uma maldição que o impede de levar uma vida normal. Questões filosóficas minhas, me fizeram crer que o Clint, embora não seja prosélito no filme, procurou passar a mensagem "dá de graça o que de graça recebeu". O segundo personagem é o garoto Marcus que sofre com a trágica morte do irmão gêmeo, Jason (George e Frankie McLaren se revezam nos dois papéis), e recorre a todo tipo de crença e tecnologia para entrar em contato com ele: videntes, centros espíritas, vídeos religiosos, microfones superpoderosos e até a observação de espelhos. E nesso ponto o Clint toca na questão do charlatanismo e de como pessoas se aproveitam da fragilidade de outras para ludibriar e fazer dinheiro facil com a dor alheia. A terceira personagem é a jornalista Marie Lelay (a ótima atriz belga Cécile De France) que vê sua vida mudar radicalmente após sobreviver ao tsunami de 2004, recriado por Eastwood em uma sequência de tirar o fôlego (“Além da Vida” foi pré-selecionado para o Oscar de efeitos visuais). Engolida pelas ondas gigantes, ela passa pela chamada "experiência de quase-morte" e, de volta para casa, se dedica a investigá-la. O Ragazo colocou que a estória da Marie seria apenas pra cumprir tabela, mas com a estória de Marie, Eastwood  retrata que quem acredita na vida após a morte se transforma em vítimas de isolamento e preconceito. A obsessão da jornalista pelo tema tira sua credibilidade e coloca em risco uma carreira em ascensão na TV francesa e um relacionamento amoroso, ainda que sua crença seja mais científica que religiosa. Qndo enfim Clint ver que já falou sobre tudo que poderia falar vem o encontro entre os três personagens principais que fica meio "forçada de barra" para os destinos se cruzarem e que tira parte da força de “Além da Vida”. O excesso de coincidência, porém, não diminui o prazer de acompanhar o modo detalhado com que Eastwood apresenta as histórias de George, Marcus e Marie, talvez a grande qualidade do filme. O filme fala mais sobre a vida que sobre a morte. Talvez uma boa conclusão sobre o filme é que da vida só se leva, a vida que se leva.

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