Nunca
achei que deveria sair ao mundo, falando sobre a minha
orientação sexual. Cada
um tem a sua e vive ela da melhor forma possível. Meus irmãos nunca tiveram que dizer:
-
Gente... Eu queria dizer a vocês que... Eu gosto de mulher!!!
Do
mesmo modo achava que não havia motivos pra fazer o mesmo.
-
Gente... Eu queria dizer a vocês que... Eu gosto de homens!!!
Embora,
deva dizer que o fiz a alguns poucos que não passam dos cinco dedos da mão
esquerda (porque sou canhoto) e não vejo que tenha sido por considerá-los mais
que outros, muito pelo contrário.
Hoje
praticamente todos os meus amigos, e vale dizer que são todos heterossexuais, sabem. Problemas?! Não, nenhum... Quer
dizer...
Vivemos
numa sociedade educada a pejorativar o diferente, orientada que relações entre
homens ou entre mulheres são erradas, pecaminosas, fora da regra padrão e até
põem em risco a saúde pública. Isso ocorre nas piadas infames, nos adágios populares
ditos sem pensar, nos pequenos deslizes nossos de cada dia e ate mesmo entre
homossexuais (autodepreciação provocada por reflexo condicionado talvez). De
repente, não mais do que de repente, tudo se transforma em homofobia e a
geração PIF (Pseudo Intelectual Fashion) procura se adequar com depoimentos do
tipo: Meu cabeleireiro é gay e gosto muito dele!!!
Quantas
e quantas vezes já não senti o desconforto nos olhos de alguns dos meus amigos
ao lhes contar sobre relacionamentos meus ou fatos ocorridos comigo.
E
como encaro tudo?
Ora,
normal.
Não
há nada mais normal do que eles se sentirem estranhados.
Relações
homossexuais sempre existiram, mas estavam confinadas aos guetos, as marquises
escuras, as boates difamadas, a locais marginalizados; feita por pessoas promíscuas,
pervertidas e pornográficas cuja única coisa que passa por suas mentes é sexo
ou querer ser uma coisa que não são, nem serão, graças a mãe natureza. Nunca no
centro, nunca na mídia, nunca sem máscaras no meio da sociedade e que de uma hora
para outra, nunca ficou tão exposta, nunca tão clara... Graças a Deus!
Logo,
o desconforto gerado é normal. Contudo, ao mesmo tempo em que noto e sou resiliente
diante das limitações, estou vigilante para que não ultrapassem a fronteira tênue
do desrespeito. Muito mais do que compreensão quero respeito.
Por
isso, embora respeite as posições extremadas de alguns amigos gays, eu não
posso concordar que processos de igualdade se façam com radicalismos, mas com
educação.
O
desconforto no olhar de alguns amigos é nítido, mas ao notar procuro agir como
se nada estivesse acontecendo, como se estivesse dizendo a coisa mais banal da
face da terra (e estou!) e que praticamente nem notei que ficou ruborizado.
Acredito que é agindo normal que aos poucos iram notar que minhas relações são tão
normais quanto as relações heterossexuais deles. Que o errado, pecaminoso, fora
da regra e que põem em risco a saúde pública está tanto nas minhas atitudes
quanto nas atitudes deles. Esta tanto na minha orientação, como na orientação
deles. Minha orientação não é uma arma para ferir ninguém, é uma forma que
tenho para viver e me relacionar com o mundo que vivo da melhor forma possível.
Se o desconforto existe, não posso deixar de perceber o respeito, o
carinho e a necessidade de proximidade que vem deles... Onde mora o preconceito
nesse caso?!
E
penso cá com meus botões: Conformista ou diplomata?!